Quase metade dos profissionais é infeliz no trabalho
Sentir-se bem, motivado, realizado e com boas perspectivas de crescimento profissional em pelo menos 70% do tempo é uma realidade para 51% dos 5.685 profissionais ouvidos por uma pesquisa que tentou detectar quem é feliz no trabalho.
Conduzido por Elaine Saad, coordenadora da Right Management na América Latina, o estudo mostra que 49% das pessoas não estão contentes profissionalmente. Na divisão por sexo, os homens são mais felizes que as mulheres, 54% contra 48%.
Por faixa etária, os mais jovens são os mais descontentes. Até os 35 anos de idade, a maioria diz não estar feliz no trabalho.
A partir dessa idade ocorre o contrário, com a maioria afirmando estar realizada profissionalmente. Os mais velhos, profissionais com mais de 65 anos, são os mais felizes entre todos os pesquisados (88%).
Quanto tudo vai bem, irradiamos alegria. É um "bom dia" dado com vontade, um sorriso ao pedir algo, um olhar interessado a quem vem conversar conosco. O empenho no trabalho é bom, as recompensas no amor são maravilhosas e os dias se tornam agradáveis. A sua felicidade reverbera e atinge até mesmo quem passa horas ao seu lado. Estar de bem com a vida chama a atenção e até provoca uma certa inveja em quem não passa por um momento semelhante.
Vivemos momentos de felicidade, e não sua plenitude. Sempre há algo a melhorar, um setor que é uma pedra no sapato. Seja um problema familiar, profissional ou de saúde, substituímos nossas preocupações quase o tempo todo. E aí entra o cuidado para não perder a auto-extinta.
Não deixe o bem-estar escapar
Perder a autoestima pode acarretar uma série de riscos. O primeiro deles é o de não ter a mesma força de outrora para resolver as questões que se apresentam. De repente aquela pessoa feliz que você era vai se cansando e se deixa abater por críticas, sentimentos de culpa, vergonha, medos, insegurança, etc. "Quando estas sensações começam a dominar os pensamentos é possível notar uma queda no rendimento em todos os setores da vida", explica a psicóloga Doralice Lima.
O trabalho rende menos e não dá prazer. Em casa, o convívio familiar se torna um martírio, e a vontade de ficar o tempo todo na cama ou apenas com a TV como companhia aumenta. "O isolamento é sintomático e acontece em efeito dominó. Pode começar com a reclusão e terminar em depressão profunda", alerta a profissional. Ter a mente dominada por pensamentos negativos ajuda a desenvolver doenças. Tente lembrar das vezes que você teve febre, por exemplo. Geralmente ela surge depois quando você está passando por problemas pessoais ou profissionais que te desgastam. É uma forma do corpo gritar: "Não estou bem, olhe para mim".
Consequências desastrosas
Caso a autoestima sofra uma queda e não seja recuperada, pode acontecer do rendimento cair tanto no trabalho a ponto de o chefe resolver que a demissão é a melhor alternativa. Em casa, os parentes percebem o comportamento mais arredio.
Os amigos também não entendem que motivo levou aquela pessoa tão querida a não se misturar mais nos eventos que combinavam com tanto prazer. "Em pouco tempo uma vida social e profissional que foi conquistada pode desmoronar", diz a psicóloga. Há duas formas de encarar os percalços da vida: se fazendo de vítima frente a uma dificuldade ou arregaçando as mangas para resolvê-la e seguir adiante. Sempre prefira a segunda alternativa, recomenda a especialista. "Períodos de lamentação são comuns e remoer mágoas é natural. Mas esses momentos devem ser passageiros. A vida pode estagnar caso o comportamento passe a ser movido por rancores", explica a profissional.
Atenção aos sintomas
Claro que ninguém é de ferro, e todos têm o direito de chorar quando se sentem sem forças de dar o próximo passo. Mas esse instante de fraqueza precisa mesmo ser momentâneo e não perpetuado. "Quem chegou aos degraus mais altos de grandes empresas tirou forças para vencer as barreiras que se impunham e para chegar onde chegaram rejeitaram o rótulo de fracassados que em alguns momentos poderiam ter recebido caso abaixassem a cabeça para as interpéries da vida", exemplifica a terapeuta. Segundo a profissional, encare tudo de frente e pegue a vida com as mãos, ou seja, não esperar por milagres é a forma mais sadia para manter a autoestima fora de perigo.
Mau exemplo em casa, dificuldades emocionais e falta de educação financeira são a receita para deixar a conta do banco no vermelho
A dívida começou há oito anos, quando Jayme Borges, 30 anos, estudante de direito, veio de Curitiba para São Paulo para trabalhar e fazer pós-graduação. “Quando você sabe que vai ter salário, começa a gastar o que não tem. Só que perdi o emprego e fiquei me endividando no cartão para pagar as contas.
Estourei e parcelei várias vezes”, conta Jayme. “Só sobrou dinheiro para o aluguel e para a comida do gato. Cheguei a ficar com R$ 4 no bolso. Aproveitei uma promoção do supermercado e sobrevivi à base de paçoca e água por duas semanas.” Ao se empregar de novo, Jayme até começou a pagar o que devia e reassumir as próprias contas, com ajuda do namorado, bem mais organizado financeiramente. “Mas fui demitido e, dos R$ 7 mil da rescisão, gastei uns R$ 4 mil em camisas pólo numa tarde.
O emocional pesou, mas na hora eu não me dei conta disso”, conta o estudante. Comportamentos assim são totalmente irracionais, fogem à lógica. “A forma que lidamos com dinheiro está marcada por várias questões emocionais, desde a infância”, diz Jacqueline Kaufmann, psicóloga financeira e terapeuta sistêmica. “Dinheiro está inserido em todas as famílias e a relação que se tem com ele marca a pessoa”, afirma a psicóloga.
De acordo com Jacqueline, a tendência das pessoas é repetir o padrão que aprenderam em casa. Nos casos em que isso gera uma relação negativa com o dinheiro, é preciso avaliar as origens do mau comportamento. Há também quem caia no extremo oposto do comportamento aprendido, para fugir do padrão: diante de pais sovinas, há filhos que viram perdulários extremos.
Shoppingterapia
Não é difícil achar quem se identifique com a viciada em compras Becky, do filme “Os Delírios de Consumo de Becky Bloom”. No melhor estilo da personagem, a consultora em relações internacionais Ana Paula Rassi, 37 anos, decidiu cancelar o cartão de crédito para se proteger. “Costumo fazer „shoppingterapia‟ em situações de extrema ansiedade ou em liquidações imperdíveis. No momento, estou bem controlada, com alguns escorregões”, revela. Depois de liquidações, principalmente em viagens, ela fica meses sem comprar “nem uma caixinha de fósforo”.
Ela já aliviou ansiedade e depressão com compras. “Fizeram muito bem para mim naquele momento – naquele momento apenas – porque preencheram um vazio. Acho que é isso que acontece.” Para Jacqueline, “dinheiro quer dizer independência, ser dono da sua vida, ter poder, controle”. Dependendo da associação que se faz, é fácil ir para o shopping e extrapolar, para tentar suprir uma necessidade emocional.
Educar é melhor que remediar
Uma forma eficaz de prevenir que a espiral que leva a pessoa a gastar mais do que tem é investir em educação financeira. “Nada contra realizar desejos, mas é preciso aprender a diferenciar o desejo e a necessidade. Crédito é para emergências. Para realizar desejos, o ideal é juntar o dinheiro antes”, diz Sheila Maia, professora do curso de administração e especialista em finanças pessoais da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro.
Ou seja, mesmo quem é emocional e impulsivo dinheiro pode se beneficiar ao entender como o jogo financeiro funciona. “Nossa geração é descontrolada por casa da inflação; você gastava o dinheiro logo porque não sabia o preço do açúcar amanhã”, afirma.
Essa mentalidade, aliada à oferta de crédito que existe hoje, é uma bomba-relógio financeira. “Em fevereiro tem carnaval e as operadoras de turismo dividem em dez vezes os pacotes. Logo depois tem a Páscoa, com ovos parcelados. Em maio, Dia das Mães, mais parcelas. Dia dos Namorados em junho, Dia dos Pais em agosto, Dia das Crianças em outubro. No Natal, mais presentes. Em janeiro, IPTU e IPVA.
Não tem jeito, vira uma bola de neve”, diz Sheila. É preciso organização para saber quanto da renda pode ser comprometida e controle para não estender no prazo o pagamento de itens que podem ser quitados à vista. Como parcelas pequenas dão a falsa sensação de “caber no bolso”, a pessoa se ilude sobre o tamanho da dívida total e se endivida.
Ladeira abaixo
O estudante Nilton Henrique Santos Leão, 22 anos, é devedor há quatro anos. “Devo para os bancos Itaú, Santander, Real e Riachuelo. Comprei pouca coisa, mas os juros engordaram a conta”, diz. “Acredito que foi falta de conhecimento e a criação: minha mãe faz compras por impulso”, diz. “Eu acreditava que podia me endividar um pouco e me acertar depois, o que não deu certo”. Nilton ainda está quebrando a cabeça para resolver como vai pagar as dívidas.
“Os apelos do comércio impulsionam ao consumo, a pessoa acaba induzida a comprar”, diz Omar Malheiro, diretor da financeira ATN Capital. “As pessoas compram mais do que podem, pagam juros, em vez de poupar uma parte do salário, porque têm otimismo de que tudo vai dar certo amanhã”, alerta Sheila, da ESPM-RJ.
Não olhar as próprias contas com cuidado é outro indício de que as emoções podem estar negligenciadas. “Gastos impulsivos não são comportamentos racionais. Fugir das próprias contas é inconsciente. Quando eu fujo dessa responsabilidade, provavelmente fujo de outras, como situações conflitantes. Geralmente, faz parte de um contexto bem mais amplo”, diz Jacqueline.
*Fonte: Minha Vida (portal R7)
06 de setembro de 2011