terça-feira, 02/04/13

A segunda morte de Miguel Arraes – Artigo retrata a agonia da saúde pública, cada vez mais privatizada

 

Por Michel Zaidan Filho

Doutor em Sociologia, Professor da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE)



esmola saude publica1Quis o ingrato destino que visitasse por duas vezes, no mandato do governador Eduardo Campos, o inferno de dois hospitais públicos do Pernambuco: o hospital Otávio de Freitas, durante a eleição do prefeito Geraldo Júlio; e o hospital Miguel Arraes, nos últimos dias de agonia do meu sogro, um brasileiro, pernambucano, servidor público aposentado, que faleceu nas dependências deste último nosocômio, administrado pelo senhor Antonio Figueira, simultaneamente presidente da OSCIP que administra o hospital e secretário de Saúde do Estado de Pernambuco.


Quando da primeira vez que o senhor Rivaldo Neri Batista foi internado, em situação de urgência, no Hospital Otávio de Freitas, com uma hemorragia no reto, acompanhei o sofrimento deste idoso, posto numa maca estreitíssima, num galpão que fazia as vezes de enfermaria para uns tantos doentes, em estado grave, que esperavam por cuidados médicos de uma única enfermeira que se arrastava com dificuldades para atender aos mais necessitados.


Os doentes da enfermaria eram privilegiados. havia uma multidão de desvalidos que abarrotava os corredores, literalmente entregues à sua própria sorte. Essa foi uma experiência “epifânica” do atual modo de gestão da saude, neste governo de euforia. Tive a oportunidade rara de dizer ao eleito (do governador), no dia seguinte á eleição, que enquanto ele se vangloriava da fácil vitória sobre os adversários, os pobre, doentes, idosos e miseráveis gemiam, sem atendimento médico ou terapeutico, nos hospitais do grande Recife.


Mas ele não estava interessado nessa comunicação. Certamente, dispunha de hospitais caros e privados para tratar de si e de seus familiares. O mundo da pobreza e do sofrimento não faz parte de seu cotidiano nem de seu universo mental. Administradores “públicos” sem a menor empatia com a dor dos que sofrem nesta cidade do Recife.

Pior, foi a segunda vez que internamos o senhor Rivaldo neri Batista no novo hospital, em Paulista, administrado pelo IMIP, que leva o nome de Miguel Arraes, avô e padrinho político do atual governador do Estado. E aí eu fiquei pensando o que teria sido do ex-governador e patrono daquele hospital, se ele tivesse sido internado naquele nosocômio? Quantas vezes ele teria morrido em suas dependencias, por negligência e imperícia médica e problemas de ventilação nas UTis e enfermarias? – Coitado de Miguel Arraes.

Como se põe o nome de um político histórico, como ele, num hospital (novo?) onde funcionários, parentes e doentes (de UTI) padecem de um calor infernal, por falta de ventilação, e contraem infecções nas enfermarias por falta exatamente de condições ambientais adequadas? Será que o governador está ciente dessa situação? – E o super-secretário de Saude e presidente do IMIP? – Podiam fazer um estágio lá, para sentirem a temperatura dos doentes e “pacientes”?


Mais grave é a negligência e imperícia médica. Para que serve a medicina e os hospitais públicos, senão para amenizar o curar o sofrimento das pessoas? Não se procura um hospital para aumentar o carga de sofrimento do doente e de sua família e se condena à morte o paciente, por ser velho, pobre e portador de câncer. Não há nada em nenhum manual de clínica médica ou regras da medicina intensivista que proclame a inevitavel morte de pacientes velhos, só porque são velhos e pobres! O que leva a óbito prematuro mesmo desses pobres velhos pacientes é a negligência, o dessinteresse e a imperícia médica dos profissionais da saúde!


Como é possível que um doente que se interne num hospital público para fazer uma simples colostomia, morra – dias depois – de complicações respiratórias deixadas pelas sequelas da entubação buco-nasal? – Só um a hipótese explica esse óbito: a falta de cuidado adequado do corpo médico (rotativo) das UTIs, que recebem os históricos de pacientes internados – em estado grave – como fardo de que tem de se livrar a qualquer custo. Para a família, uma desculpa qualquer. Já que “vai morrer”, qualquer justifica serve. Nem que seja aquela que atribui ao doente a responsabilidade de sua morte, por ser velho, pobre e portador de câncer.


O que tem a dizer o neto e governador do estado de Pernambuco, o sr. Eduardo campos sobre o matadouro que leva o glorioso nome do seu avô? E o super-secretário de Saúde, o senhor Antonio Figueira, sobre esse novo (e fatídico) modelo de gestão da saude em nosso Estado?


 
 

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