Aposentados querem pressa na aprovação do reajuste
Josie Jerônimo
Uma semana após o plenário aprovar o reajuste de 7,7% para aposentados que ganham mais de um salário mínimo e o fim do fator previdenciário, o controverso projeto de lei permanece parado na Câmara dos Deputados. Os aposentados reclamam que a demora do presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), em assinar a proposta para encaminhá-la ao Senado é uma manobra do governo para deixar correr o tempo e engavetar a votação, levando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a editar nova medida provisória. Se a proposta não for votada pelos senadores até 1º de junho, a MP vai caducar e a vitória dos aposentados na Câmara não será levada em conta.
O presidente da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap), Warley Martins, afirma que a entidade vai pressionar realizando vigília no Congresso a partir de hoje. A entidade também articula campanha para convocar os aposentados a se tornarem eleitoralmente ativos, para pressionar as autoridades. Atualmente, 8,2 milhões da aposentados ganham mais de um salário mínimo e serão automaticamente beneficiados com o reajuste de 7,7% aprovado na Câmara. Os beneficiários correspondem a 6% do eleitorado brasileiro. “O fator previdenciário também mexe com o trabalhador. Cerca de 3 milhões de pessoas ainda não se aposentaram para não perder o benefício com o cálculo do fator previdenciário. Nós vamos fazer um movimento para o Lula não vetar. O aposentado ficava muito ocupado com tratamento médico e não se envolvia em questões políticas”, afirma Warley Martins.
A secretaria-geral da Mesa Diretora da Câmara informou que Temer ainda não assinou a proposta porque o departamento jurídico tinha “uma dúvida” em relação ao texto. Segundo o secretáriogeral da Mesa, Mozart Vianna, a emenda do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) que modificava o índice proposto pelo governo e sugeria os 7,7% alterava apenas o anexo da proposta relatada pelo líder Cândido Vaccarezza (PT-SP) e não a íntegra do texto. Mas a secretaria entendeu que a emenda do deputado do PDT modifica todo o documento.
Os aposentados afirmam que o presidente Lula terá dificuldade para vetar o reajuste e o fim do fator previdenciário porque os beneficiários estão “articulados politicamente”. “Na Era Collor eram os caras-pintadas nas ruas, na Era Lula são os caras-enrugadas”, afirma o presidente da Cobap.
Se o governo deixar a MP caducar, o presidente Lula pode reeditar outra com índice diferente dos 6,14% apresentados inicialmente. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, afirma, no entanto, que o Congresso não vai usar o artifício de deixar a MP perder a validade e alega que é normal a “demora” de Temer em enviar a proposta para o Senado. “Em geral demora. O Michel deve assinar hoje, até quarta-feira à noite está no Senado.” De acordo com estudo das centrais que representam os aposentados, com o reajuste de 6,14% proposto pelo governo, 252 aposentados que atualmente ganham mais de um mínimo passariam a ganhar um mínimo, graças à defasagem em relação ao salário-base.
Povo fala
O veto do presidente Lula ao reajuste de 7,7% na aposentadoria e ao fim o fator previdenciário influenciará seu voto nas eleições deste ano?
Josimar Costa, 73 anos, aposentado
“Vou votar contra qualquer candidato do Lula. Se ele vetar, vai fazer com que muitos aposentados que estão em dúvida em relação a Dilma e Serra tomem posição contra o governo. Se não fosse a política das aposentadorias, instituída na época do Fernando Henrique, nossa situação estaria muito pior”.
Fonte: Correio Braziliense
11/02/2010