Marcha da Consciência Negra reafirma luta pela igualdade
Marcha da Consciência Negra defende manutenção do feriado de 20 de novembro em todo brasil
Ao som de muito hip hop, samba e poesia, movimentos populares, sindicatos, partidos políticos e militantes da luta contra o racismo ocuparam o centro de São Paulo neste sábado para celebrar o Dia
da Consciência Negra e a memória de Zumbi dos Palmares, Dandara e João Cândido, heróis brasileiros que dedicaram sua vida para construir um país sem opressões. Este ano, a Marcha da Consciência Negra homenageou o centenário da Revolta da Chibata, quando trabalhadores da Marinha brasileira, liderados pelo Almirante Negro, João Cândido, se organizaram para derrubar o uso do açoite na instituição.
Além de relembrar a história, a Marcha reafirmou um série de bandeiras de luta do movimento negro, como o combate à intolerância religiosa e ao genocídio da juventude negra, a defesa das cotas raciais nas universidade e a necessária implementação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que obrigam o ensino da história do negro, indígena e africanos nas escolas. Em São Paulo, USP, Unesp e Unicamp são as instituições de ensino superior mais resistentes à aprovação das cotas como programa de acesso de negras, negros e pobres nas universidades.
Defendeu ainda os territórios quilombolas. No litoral norte de SP e no Vale do Ribeira, comunidades remanescentes de quilombos estão sendo expulsas por empreendimentos imobiliários. Os movimentos também distribuíram uma carta dirigida à presidente eleita, Dima Rousseff, sobre a escalada de violência no Haiti. Eles pedem a retirada das tropas brasileiras do país e a substituição dos 1200 soldados brasileiros da Minustah por médicos, enfermeiros, bombeiros, técnicos e operários, para reconstruir a destruição causada pelo terremoto no início do ano.
“É preciso acabar com este projeto de faxina étnica da população negra, que sofre cotidianamente um extermínio direto e indireto, através de políticas públicas que não garantem a saúde do povo negro, das remoções provocadas pelos grandes empreendimentos – e que aumentarão agora com a Copa do Mundo e as Olimpíadas -, do encarceramento em massa da nossa juventude e agora com as várias leis aprovadas contra cultos de matrizes africanas”, afirmou Juninho, do Círculo Palmarino.
“Hoje celebramos uma data que é marca da resistência do povo negro, mas a vitória não está consolidada.
O que tem acontecido em São Paulo e no Brasil, coisas que não imaginávamos mais ver, deve ser repudiado com veemência. Isso degrada a dignidade humana e é reflexo da sociedade de classes em que vivemos”, disse Ivan Valente.
Ameaça ao feriado de 20 de novembro
Na avaliação das organizações, houve um endurecimento da direita, que viu fragilidade no movimento e aumentou seus ataques à população negra. Um deles foi a ação 990.10.428.934-3, movida pelo CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), contra o feriado de 20 de novembro. A Justiça concedeu liminar à organização e, este ano, funcionários de 10 mil empresas ligadas ao Centro não tiveram direito ao feriado.
“A realização da Marcha também é uma forma de dizer que o povo negro quer manter o feriado em São Paulo, que já existe em outras 400 cidades. Perder esta data é perder a luta”, acredita Flávio Jorge Rodrigues da Silva, diretor da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN). “Este não foi um fato isolado. É parte da onda conservadora e obscurantista que vimos na eleição e que agora se manifesta de formas diferentes”, disse.
Em parceria com a Comissão de Direitos Humanos, o movimento negro está organizando uma audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo no próximo dia 25, quinta, às 19h. “Queremos chamar o presidente Paulo Skaf, da Fiesp, para fazer um debate público sobre isso. Temos um receio de iniciativas como esta se espalhem pelo país. Nossa estratégia, portanto, é derrubar a liminar aqui em São Paulo”, explica João de Oliveira, da Associação Cultural Rei Favela.
Para isso, será necessária muita mobilização e articulação dos movimentos populares, o que pareceu faltar nesta 7a Marcha da Consciência Negra. O ato foi menor do que em anos anteriores, apesar de todos os ataques que o movimento vem sofrendo.
“Precisamos fazer um debate sobre a institucionalização dos movimentos. Se não houver clareza sobre isso, a tendência é o negro voltar para o tronco”, criticou Gegê, da Central dos Movimentos Populares. “O primeiro desafio do movimento negro é reavaliar uma postura que privilegia a relação institucional em vez da mobilização popular. Vimos isso no processo de votação do Estatuto da Igualdade Racial. Saímos derrotados. O movimento não pode perder sua capacidade de formulação política e também de mobilização e articulação”, concluiu Juninho.
Além de relembrar a história, a Marcha reafirmou um série de bandeiras de luta do movimento negro, como o combate à intolerância religiosa e ao genocídio da juventude negra, a defesa das cotas raciais nas universidade e a necessária implementação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que obrigam o ensino da história do negro, indígena e africanos nas escolas. Em São Paulo, USP, Unesp e Unicamp são as instituições de ensino superior mais resistentes à aprovação das cotas como programa de acesso de negras, negros e pobres nas universidades.
Defendeu ainda os territórios quilombolas. No litoral norte de SP e no Vale do Ribeira, comunidades remanescentes de quilombos estão sendo expulsas por empreendimentos imobiliários. Os movimentos também distribuíram uma carta dirigida à presidente eleita, Dima Rousseff, sobre a escalada de violência no Haiti. Eles pedem a retirada das tropas brasileiras do país e a substituição dos 1200 soldados brasileiros da Minustah por médicos, enfermeiros, bombeiros, técnicos e operários, para reconstruir a destruição causada pelo terremoto no início do ano.
“É preciso acabar com este projeto de faxina étnica da população negra, que sofre cotidianamente um extermínio direto e indireto, através de políticas públicas que não garantem a saúde do povo negro, das remoções provocadas pelos grandes empreendimentos – e que aumentarão agora com a Copa do Mundo e as Olimpíadas -, do encarceramento em massa da nossa juventude e agora com as várias leis aprovadas contra cultos de matrizes africanas”, afirmou Juninho, do Círculo Palmarino.
“Hoje celebramos uma data que é marca da resistência do povo negro, mas a vitória não está consolidada.
O que tem acontecido em São Paulo e no Brasil, coisas que não imaginávamos mais ver, deve ser repudiado com veemência. Isso degrada a dignidade humana e é reflexo da sociedade de classes em que vivemos”, disse Ivan Valente.
Ameaça ao feriado de 20 de novembro
Na avaliação das organizações, houve um endurecimento da direita, que viu fragilidade no movimento e aumentou seus ataques à população negra. Um deles foi a ação 990.10.428.934-3, movida pelo CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), contra o feriado de 20 de novembro. A Justiça concedeu liminar à organização e, este ano, funcionários de 10 mil empresas ligadas ao Centro não tiveram direito ao feriado.
“A realização da Marcha também é uma forma de dizer que o povo negro quer manter o feriado em São Paulo, que já existe em outras 400 cidades. Perder esta data é perder a luta”, acredita Flávio Jorge Rodrigues da Silva, diretor da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN). “Este não foi um fato isolado. É parte da onda conservadora e obscurantista que vimos na eleição e que agora se manifesta de formas diferentes”, disse.
Em parceria com a Comissão de Direitos Humanos, o movimento negro está organizando uma audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo no próximo dia 25, quinta, às 19h. “Queremos chamar o presidente Paulo Skaf, da Fiesp, para fazer um debate público sobre isso. Temos um receio de iniciativas como esta se espalhem pelo país. Nossa estratégia, portanto, é derrubar a liminar aqui em São Paulo”, explica João de Oliveira, da Associação Cultural Rei Favela.
Para isso, será necessária muita mobilização e articulação dos movimentos populares, o que pareceu faltar nesta 7a Marcha da Consciência Negra. O ato foi menor do que em anos anteriores, apesar de todos os ataques que o movimento vem sofrendo.
“Precisamos fazer um debate sobre a institucionalização dos movimentos. Se não houver clareza sobre isso, a tendência é o negro voltar para o tronco”, criticou Gegê, da Central dos Movimentos Populares. “O primeiro desafio do movimento negro é reavaliar uma postura que privilegia a relação institucional em vez da mobilização popular. Vimos isso no processo de votação do Estatuto da Igualdade Racial. Saímos derrotados. O movimento não pode perder sua capacidade de formulação política e também de mobilização e articulação”, concluiu Juninho.
Brasília-DF, 25 de novembro de 2010.