Ministério da Saúde precisa de uma UPP
Uma das vítimas de Brasília é a semântica. O sentido das palavras está sob constante ataque. A ofensiva começa quando chamam o aglomerado de partidos que orbitam ao redor do governo de “coalizão”.
A platéia se divide em duas. Uma parte acha que está diante de uma crise de significado. Outro pedaço enxerga uma roda de cínicos.
‘Acredito, inclusive, que este indicador não precise ser de níveis de gestão, ele pode ser de níveis de gestão’.
Trata-se de uma herança maldita tucano-petista que torrou R$ 400 milhões prometendo um plástico para cada cidadão capaz de conectá-lo ao seu histórico médico.
Brasília-DF, 12 de janeiro de 2011
No instante em que apelidam a guerra por cargos de esforço pela “governabilidade”, a artilharia atinge sua fase terminal.
A audiência, então, unifica-se. Percebe que, em Brasília, qualquer coisa quer dizer qualquer coisa. Ou, por outra, o significado perde o significado.
Em artigo veiculado na Folha, o repórter Elio Gaspari ilumina a ação da infantaria antisemântica num setor específico: a pasta da Saúde. Eis o texto: "O Ministério da Saúde precisa de uma Unidade de Polícia Pacificadora. Logo num setor ao qual doutora Dilma prometeu prioridade instalou-se uma briga digna do Morro do Alemão.
Facções petistas consumiram a primeira semana de governo trocando tiros com o comando do PMDB pelo domínio da área.
No centro do conflito estão dois pontos, a Secretaria de Atenção à Saúde e Fundação Nacional de Saúde.
Um cidadão desatento poderia supor que a divergência envolve concepções antagônicas de políticas públicas. Infelizmente não é esse o caso. Envolve verbas, e só verbas.
A SAS tem um cofre com R$ 45 bilhões. O da Funasa é de R$ 5 bilhões. Isso, para não se falar na briga pelos teclados reguladores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
O novo ministro, Alexandre Padilha, é um médico infectologista, com doutorado no comissariado petista.
Como secretário de Relações Institucionais do governo anterior deixou no Congresso a memória de um negociador que opera o varejo com a musculatura de um estivador do atacado.
O doutor Padilha assumiu com um discurso de 9.000 palavras no qual consumiu 1.600 num blá-blá-blá de saudações.
Prometeu a criação de um desejável indicador para que se possa medir a eficiência dos serviços de saúde pública, mas ficou devendo os detalhes. Até porque disse coisas assim:
‘Acredito, inclusive, que este indicador não precise ser de níveis de gestão, ele pode ser de níveis de gestão’.
Ou ainda: ‘A contradição é que o SUS é ainda uma referência de modelo de pactuação e estruturação, de uma política pública interfederativa para outros sistemas’. Madame Natasha teme que tenha surgido uma nova moléstia, o padilhês.
Se o comissário quer criar um indicador a partir do qual se possa avaliar a qualidade do serviço da sua pasta, poderia começar contando o que aconteceu com o Cartão SUS.
Trata-se de uma herança maldita tucano-petista que torrou R$ 400 milhões prometendo um plástico para cada cidadão capaz de conectá-lo ao seu histórico médico.
Se quiser evitar a discussão do que se fez de errado, pode contar o que pretende fazer de certo”.
Fonte: Josias de Souza – UOL BLOG
Brasília-DF, 12 de janeiro de 2011