Supremo Tribunal Federal julga reajuste do funcionalismo
Antes de julgar o mérito do recurso, o STJ já havia decidido que ele terá repercussão geral, instrumento previsto na Constituição, que permite ao STF analisar apenas os recursos de relevância jurídica, política, social e econômica. Dessa forma, a decisão deve ser aplicada pelas instâncias inferiores a todos os processos semelhantes.
Oficialmente, o Ministério do Planejamento informou que é preciso aguardar a decisão final para analisar que medida será tomada, mas o julgamento pegou a equipe econômica de surpresa. O governo Lula concedeu reajustes de mais de 100% a diversas categorias do Executivo entre 2008 e 2010, elevando as remunerações muito acima da iniciativa privada no caso de funções de mesma escolaridade e complexidade.
Mesmo as carreiras típicas estão com altas remunerações, na avaliação do Palácio do Planalto. Técnicos das agências reguladoras, de nível médio, por exemplo, começam ganhando R$ 5 mil e os de nível superior, R$ 10 mil. Advogados da União e procuradores federais recebem inicialmente R$ 15 mil, bastando ter apenas dois a nos de prática de advocacia. Agentes da Polícia Federal têm salário inicial de R$ 7.500.
Conta feita
O governo fez as contas e concluiu que entre 2003 e 2010 todas os servidores da
administração federal tiveram reajuste acima da inflação. Conceder mais aumentos, que valem também para os inativos, não está nos planos da equipe econômica. Para este ano, por exemplo, o Planejamento já descartou incremento para qualquer categoria. Os servidores do Judiciário pedem correção de 56% desde 2009. Conforme informações obtidas pelo Correio, o governo já decidiu que, mesmo que o Judiciário insista em greves e pare por seis meses, não vai haver aumento em 2011. “O ano é de contenção de gastos”, afirmou um integrante da equipe econômica.Em seu relatório, o ministro Marco Aurélio afirmou que o artigo 37, inciso X, da Constituição assegura a revisão geral anual, que não é respeitado pelos governos federal, estadual e municipal. “O que se tem é o desrespeito pelo Estado, solapando o direito do servidor público, de norma de envergadura maior a impor o reajuste anual da remuneração, ano a ano, considerado o mesmo percentual que, é ditado pela inflação do período”, argumentou.
Na Esplanada dos Ministérios, o julgamento do recurso dos servidores estaduais paulistas neste momento soou como recado do STF para pressionar o governo a aumentar os salários do Judiciário. Durante o julgamento, também falaram como interessados advogados da Associação Nacional de Defesa dos servidores Públicos (Andesp), da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União (Fenajufe) e do Sindicato dos Policiais Federais no Estado de Santa Catarina (Sinpofesc).
Ao defender o reajuste anual, Marco Aurélio argumentou que “o servidor público, em sentido amplo, não tem o mesmo poder de barganha dos trabalhadores em geral. Os servidores percebem valores que, em razão da inflação, já não compram o que adquiriam anteriormente”. Marco Aurélio disse ainda que o Estado é “omisso” na questão, mas admitiu ser “voz minoritária” em relação à aplicação do dispositivo.
Brasília-DF, 13 de junho de 2011