PRISÃO DE EX-PRESIDENTE DO INSS ESCANCARA O DESCASO HISTÓRICO COM A PREVIDÊNCIA SOCIAL

A prisão do ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, em 13 de novembro de 2025, durante mais uma fase da Operação Sem Desconto, marca um dos capítulos mais vergonhosos da história recente da Previdência Social. Segundo a imprensa, com base em investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União, Stefanutto era um dos líderes de uma organização criminosa responsável por fraudar aposentados e pensionistas em valores que podem chegar a R$ 6,3 bilhões. As apurações indicam ainda que o ex-presidente, identificado pelo codinome italianinho, recebia cerca de R$ 250 mil mensais em propina e estaria envolvido na criação de empresas de fachada para lavagem de dinheiro.
Além de Stefanutto, a operação também atingiu o ex-Ministro da Previdência Social, José Carlos Oliveira, que atualmente utiliza o nome Ahmed Mohamad Oliveira e cumpre medidas com uso de tornozeleira eletrônica e Edson Yamada, ex-superintendente da SR1 (São Paulo) e ex-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão, alvo de mandado de busca e apreensão. Segundo o inquérito da Polícia Federal, Oliveira e Yamada foram responsáveis pela assinatura de 10 acordos de cooperação técnica com entidades suspeitas que arrecadaram mais de R$ 2 bilhões, demonstrando que o esquema de fraudes vinha de longa data, desde o governo Bolsonaro.
Tanto Stefanutto quanto Oliveira e Yamada atuaram ativamente para penalizar os servidores durante as greves de 2022 e 2024, endurecendo processos de negociação, impondo descontos salariais e aplicando punições. Na greve de 2022, inclusive, Edson Yamada ameaçou trabalhadores que protestavam pacificamente na sede da Superintendência São Paulo (SR1) com processos e inquéritos da Polícia Federal, a mesma instituição que agora investiga o esquema de fraude contra aposentados e pensionistas.
O crime é gigantesco, mas o contexto institucional que o permitiu é ainda mais revelador. Nos últimos dez anos, o INSS teve dez presidentes distintos, alguns permanecendo apenas meses no cargo. A rotatividade absurda, fruto de barganhas políticas, loteamento de cargos e disputas internas por poder, impede qualquer possibilidade de planejamento de longo prazo. O resultado é um órgão fundamental para o povo brasileiro entregue a gestões erráticas, autoritárias e completamente descoladas das necessidades da população e dos trabalhadores que sustentam a Previdência Social.
A Fenasps vem alertando há anos que o desmonte do INSS, associado ao afrouxamento dos mecanismos de segurança do INSS Digital, dos Acordos de Cooperação Técnica, da terceirização indiscriminada e da entrega da folha de pagamento ao setor financeiro, criaria brechas graves para ações criminosas (veja aqui https://fenasps.org.br/2025/04/23/operacao-sem-desconto-da-pf-contra-fraude-afasta-presidente-do-inss/). A redução brutal do quadro de servidores e a migração apressada de serviços para automatizações sem segurança adequada aprofundaram esse cenário. O que as investigações revelam agora é que uma quadrilha operava dentro da própria Direção Central do INSS, utilizando a estrutura pública para roubar aposentados e pensionistas.
Enquanto criminosos de colarinho branco se beneficiavam de viagens, carros de luxo e privilégios dignos de realeza, os servidores do INSS eram submetidos a condições de trabalho degradantes. O Programa de Gestão e Desempenho, mantido e aprofundado pela atual gestão atual do Presidente Gilberto Waller, transformou trabalhadores em peças descartáveis, sem local de trabalho definido ou locais extremamente precários, sem jornada clara, sem adicionais e sem qualquer respeito aos seus direitos trabalhistas. Em reuniões oficiais, o italianinho utilizava frases como “bora trabalhar” para atacar servidores já sobrecarregados, expondo um cinismo cruel diante do desmonte que ele mesmo patrocinava.
A cada escândalo, fica evidente que a política de Previdência Social está sendo corroída pelo mesmo projeto neoliberal que vem destruindo serviços públicos em todas as áreas. A combinação entre precarização institucional, ataques aos servidores, reformas que retiram direitos e avanço de interesses privados sobre o patrimônio público cria um ambiente perfeito para que o crime organizado se infiltre e se fortaleça. Assim como revelado por outra operação da Polícia Federal, a Carbono Oculto, os verdadeiros criminosos não estão nas periferias ou nas favelas; estão na Faria Lima, nos gabinetes refrigerados, nas mesas de reunião do sistema financeiro.
Enquanto jovens negros das favelas são executados sumariamente, como no banho de sangue recentemente promovido pelo Estado no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos, os criminosos engravatados seguem circulando livremente pelo país, protegidos pelo mesmo modelo político-econômico que precariza, explora e destrói o serviço público.
A prisão de Stefanutto não é um fato isolado. É um sintoma de um projeto que vem desmontando a Previdência Social e o próprio Estado brasileiro. É também um alerta sobre o futuro: enquanto o neoliberalismo seguir avançando com reformas da previdência, imposições da reforma administrativa infralegal, desregulamentação, privatizações e ataques aos servidores, novos escândalos seguirão surgindo, porque o projeto em si é estruturado para favorecer a lógica da mercantilização e da corrupção sistêmica.
A Fenasps segue firme na defesa intransigente da Previdência Social como patrimônio da classe trabalhadora. Mas essa defesa exige organização e luta. Os trabalhadores que mantêm o INSS funcionando, mesmo diante do caos institucional e do abandono dos governos, não podem seguir sendo atacados e responsabilizados por crises que não criaram. É urgente fortalecer a unidade da classe trabalhadora, denunciar o desmonte em curso e lutar para reconstruir uma política de Previdência pública, segura, transparente e comprometida com os direitos do povo brasileiro.
A Previdência Social pertence aos trabalhadores, e não aos corruptos de alto escalão nem ao sistema financeiro. A Fenasps seguirá denunciando, lutando e construindo resistência para impedir que esse patrimônio seja destruído.



